domingo, 28 de outubro de 2012

A Morada das Almas.

Escrevo essa postagem em homenagem ao Dia dos Finados, porque todos nós um dia estaremos na Morada Eterna. Nesse ponto, somos iguais, nem melhores, nem piores, todos nascemos, todos morremos. E para onde vamos depois?
Quando o espírito não possui débitos pesados e não é empurrado ao Umbral pelas Leis de Ação e Reação, ele viaja para um local de seleção e triagem... Esse local, mais parece uma estação de trem, com um monte gente entrando e saindo. 
Sempre acompanhado de seu Orientador Espiritual, o espírito é levado à sua Colônia de origem... Para tanto, deverá entrar em um dos vagões estacionados na estação. Existem vagões para crianças, vagões para idosos, vagões para casais que morreram juntos e tantos outros vagões diversos. 
Enquanto você entra e senta, uma pessoa dá as explicações necessárias para a compreensão da viagem. Então, eles servem um caldo quente energizante, para tirar os medos e fobias de cada espírito, por saber que está morto... E depois acomodam em sono letárgico aqueles mais apavorados.
Durante a viagem é possível visualizar a Terra, as nuvens no céu e várias Colônias Espirituais. O "trem-aéreo" vai passando de Colônia em Colônia e deixando os passageiros, que reencontram amigos e parentes nas estações.
Depois, alguns são encaminhados ao Hospital Espiritual da Colônia; outros seguem para um repouso salutar com suas famílias espirituais; e muitos são direcionados para uma conversa com seus Mentores.
Nessa viagem, quem fica por último é o mais privilegiado, pois visita todas as Colônias anteriores e conhece um pouco mais do trabalho espiritual dos falangeiros.
Em todo o trajeto até as Colônias é possível ver, além das paisagens, muitos espíritos envolvidos por muita luz... Eles são os trabalhadores espirituais que já evoluíram e não incorporam mais.
Eles, apenas, mandam luz para a Terra, para os seus entes queridos e para a realização dos trabalhos mediúnicos. É isso o que Eles fazem o tempo todo: mandam luz! Luz de cura e luz de amor... Uma luz pura, branquinha, quentinha e envolvente.
Essa é uma das funções do Reino de Aruanda: iluminar as almas para que elas não se percam do seu caminho.... Além de servir de morada para todos aqueles que possuem missão espiritual, Aruanda também 


sábado, 27 de outubro de 2012

Pombagira do Oriente...

Uma Gueixa de muitas histórias!

Liu Siu, nasceu em um vilarejo remoto do litoral chinês. Seus pais eram pescadores e passavam por privações. Nessa época, o país estava recrutando moças para tornarem-se gueixas e servirem aos homens da aristocracia, recepcionando os embaixadores e oficiais de outros países.
Os pais de Liu Siu acharam que estavam fazendo o melhor pela filha ao dá-la para o governo em troca de provisões para a casa. Os meninos ajudariam o pai na pescaria e ela teria uma boa educação.
Assim, com apenas 8 anos de idade, Liu Siu foi levada para uma Escola de Gueixas. Muitas meninas eram recrutadas para esse mesmo propósito e ao chegar a Xangai, Siu viu centenas delas pelas ruas.
Chegaram a uma pensão-escola, onde as meninas eram selecionadas e separadas em pavilhões de acordo com a idade e aparência. Liu não era uma das moças mais bonitas da comunidade, mas possuía algo raro: o mar nos olhos.
Na China, crianças que nascessem com olhos claros eram considerados descendentes dos turcos ou dos mongóis, portanto, eram de uma classe de guerreiros. Liu Siu não sabia, mas seus avós eram mongóis.
As meninas realizavam serviços diversos e afazeres diários e, em troca, elas obtinham educação, comida e roupas. Para uma criança de 8 anos o serviço era puxado, mas as regras eram rígidas: se não fazia, não comia. E se desobedecesse: apanhava...
Siu apanhou muitas vezes, não porque desobedeceu, mas porque seu corpo era franzino e ela não conseguia dar conta dos serviços. Então, em algumas vezes ela não recebia comida e em outras não podia dormir. Mas, de qualquer forma, ela cresceu...
Os dias se arrastaram, até que ela completou 15 anos. Liu Siu tornou-se uma moça muita bonita, que começou a atrair olhares cobiçosos e de inveja. No entanto, ela ainda achava que era uma moça feia.
Um dia Liu Siu foi mandada ao mercado e por ela passou uma baronesa que já havia sido gueixa. Perguntou onde ela morava e Siu muito timidamente contou. A baronesa seguiu com ela até a pensão e pagou por sua liberdade. Siu pensou que sua vida seria diferente a partir desse momento.
Ela foi levada a um palácio onde lhe banharam, lhe assearam e lhe vestiram. Depois a baronesa conversou com ela e lhe falou que lhe ensinaria a se comportar como uma lady. Durante 6 meses Siu foi preparada e tornou-se uma moça prendada.
Então, chegou o dia que a vestiram com as melhores roupas e lhe passaram os melhores perfumes. Quando ela estava pronta, foi levada ao aposento real. Siu descobriu seu destino: ela seria a concubina do imperador!
Siu nunca questionou sua vida, sempre seguiu em frente, mas ela sonhava com o amor e com uma vida diferente. Apesar de ser uma moça tímida, ela observava tudo o que acontecia em seu país e não concordava com as maldades que os chineses impunham aos menos favorecidos das nações vizinhas. Seus antepassados falavam com ela e seu sentimento de guerreira começou a aflorar.
Durante um ano ela foi o que havia sido preparada para ser: a concubina do imperador. Mas, aos poucos, começou a ter aulas de inglês, de esgrima e de artes marciais. O imperador achava que era um capricho de uma moça pobre que queria ser rica. Mas dentro de Siu brotava um sentimento de liberdade...
Quando Siu completou 18 anos ela era uma excelente esgrimista e lutadora. Ela conseguiu permissão do imperador e começou a passear pelos arredores do palácio, sempre acompanhada por alguns serviçais.
Aos poucos ela percebeu que muitos jovens se reuniam às escondidas, tramando destronar o imperador e conquistar a liberdade para os escravos da monarquia.
Um dia, ela conseguiu ir a uma dessas reuniões. Saiu do palácio na calada da noite e entrou sem ser reconhecida. Viu o líder: um jovem forte e belo, que falava do direito de todas as pessoas de terem sua vida e sua liberdade.
Siu apaixonou-se naquele momento. Nem sabia o que era isso, mas sabia que seguiria aquele jovem onde quer que ele fosse. Ele era um ninja guerreiro preparado pelos monges tibetanos, que sabiam da intenção do imperador em tomar o Tibet.
A partir daquele dia Siu começou a frequentar as reuniões, sem saber que com isso colocava sua vida e a do jovem em risco.
Aos poucos, começaram a perceber sua ausência no palácio e um dia a seguiram. Então, na reunião seguinte, cercaram o local e renderam a todos.
O imperador aproximou-se de Siu e agradeceu a ela. O jovem pensou que ela fosse uma espiã e a olhou com ódio. Nessa hora, Siu reuniu toda a sua coragem e colocou-se ao lado do rapaz.
Disse que preferia morrer livre a ter que ver seu povo continuar a sofrer. A lei da China é dura com relação a traidores e Siu conheceu o preço que pagaria por sua traição.  O imperador mandou prender a todos, mas pediu tratamento especial a Siu e ao jovem.
Durante dias os dois foram torturados de muitas formas e depois foram levados à praça pública para a execução. Na frente de toda a população, os dois jovens estavam quase nus, sem cabelos e muito feridos.
Dois algozes seguravam sua espada para decapitar os jovens. Siu havia descoberto o nome do rapaz: era Chao Pen.
Enquanto esperava, ela lembrou de sua infância na praia, de sua adolescência roubada e de seus dias de princesa. Também lembrou do fogo da paixão que sentiu ao conhecer o anseio da liberdade.
Olhou para o lado, para o jovem ajoelhado que seria morto como ela. Eles serviriam de exemplo a todos! Quando a espada desceu, Siu deixou uma lágrima escorrer.
Ela estava com 19 anos. Ela nada viveu e ela tudo viveu! Uma vida breve, cheia de aventuras. Mas, estava feliz, pois seria um exemplo a ser seguido.
A história da moça pobre que virou concubina do imperador e que lutou pela liberdade dos tibetanos e dos pescadores, correu a China...
Ela tornou-se um exemplo e muitas moças decidiram que seriam guerreiras como Liu Siu, para lutar pelo seu povo, contra a opressão de um imperador.
Assim, a China iniciava uma nova história! E Siu iniciou uma nova jornada espiritual...

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A evolução do Senhor Exu Sete Porteiras...


Muitos umbandistas esquecem que o espírito é eterno e que nós somos imortais... A maioria dos médiuns pensa que a Entidade permanecerá pra sempre do mesmo jeito que incorporou a primeira vez. No entanto, se houver um trabalho efetivo e verdadeiro, tanto o médium, quanto o Guia Mensageiro, encontrarão o caminho da evolução. Dito isso, sigo para a história que me foi transmitida...

Essa é uma história longa, por isso demorei para publicar essa postagem. Ela será dividida em partes, para uma melhor compreensão.

Primeira Parte
A trajetória de Carvão/Café...
Em 1768 um navio aportou no Rio de Janeiro trazendo mais uma encomenda de escravos para o comércio. Dentre eles encontrava-se um jovem de pele bem escura e dentes muito brancos. Ficava o tempo todo calado, com os punhos cerrados e aguardando uma oportunidade para fugir.
Por isso, quando ele desembarcou, seus pés e mãos estavam bem acorrentados, tinha a boca amordaçada e uma coleira de ferro prendia seu pescoço. Olhava a todos com muito ódio e era possível sentir sua raiva cada vez que um homem branco o tocava. Durante a viagem recebeu o apelido de carvão, por ser muito negro.
Ele foi comprado por um fazendeiro, produtor de cana-de-açúcar, café e algodão. Esse senhor possuía fazendas no interior dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. "Carvão" foi levado para a fazenda do interior de São Paulo, onde mudaram seu apelido para "Café"... A cultura do café estava começando a proliferar no Brasil.
Com o tempo, Café já era um líder entre os demais negros da senzala e tramava uma rebelião. Os capatazes ficavam sempre de olho em suas atitudes, porque sabiam de sua força de persuasão junto aos demais escravos.
Café conseguiu realizar sua primeira fuga, com mais dez negros, doze dias depois de estar na fazenda. Mesmo sem falar o português, conseguiu se fazer entender em sua língua nativa através de sinais. Eles conseguiram ficar dois dias escondidos nas matas, mas foram capturados, pois ainda não conheciam perfeitamente a região.
Dois negros foram para o tronco, por liderarem a fuga: Café e outro, chamado Juventino. Permaneceram 48 horas amarrados, sem água ou comida, mas a revolta deles os manteve firmes.
Dessa vez Café mudou sua estratégia, decidiu se aproximar de todos: brancos e negros, aprender seus costumes, ganhar a confiança e esperar uma nova oportunidade. Passou, então, um ano... Todos haviam esquecido a fuga e pensaram que Café  havia se acostumado à nova vida. Porém, um dia, ele conseguiu capturar todos os capatazes e abriu todas as senzalas. Mais de duzentos negros empreenderam fuga!
Eles se deslocaram para os Quilombos de Parateca e Pau d'Arco, onde iniciaram uma nova vida. Durante anos os negros fugidos foram procurados, mas a região era de difícil acesso e isso permitiu a criação de vários Quilombos.
Café tornou-se um Líder em seu Quilombo e com o tempo decidiu libertar outros negros de outras fazendas. Então, a cada seis meses, ele empreendia uma jornada, passando por várias fazendas e facilitando a fuga de muitos escravos.
Com o tempo, muitos senhores feudais e capatazes começaram a se armar e preparar uma emboscada para aniquilar o escravo que estava provocando tudo isso. Em um dia, dez anos depois de sua chegada ao Brasil, Café foi traído por um dos escravos e capturado.
Enquanto era levado para o tronco, conseguiu roubar um punhal de um dos algozes e feriu mortalmente o capataz. Os demais jagunços atiraram contra ele, que morreu ali mesmo. Aqui termina uma parte de sua história e ele me permitiu contar toda ela, então...

Segunda parte
Uma nova chance.
Pela revolta que carregava e pela forma como morreu, Café caiu no Umbral. Seu corpo sentiu o impacto das rochas cortantes e escorregou para dentro de uma poça de lama. Alguns espíritos o cercaram e o chamaram de assassino. Mas ele revidou e disse: "Eu sou um mártir! Salvei muitos negros!" E os espíritos responderam: "Isso não exime a sua culpa, pois você falhou no mandamento que diz: Não Matarás!"
Café havia ouvido falar dos mandamentos, da Bíblia, do Deus dos Católicos, pois na época do Quilombo eles foram visitados por alguns profetas do sertão e por alguns freis, que pregavam o perdão e o amor ao próximo. Café ficou quinze anos no Umbral, porque não conseguia perdoar o homem branco e nem esquecer o que passou em seu pouco tempo de escravidão.
Um dia, cansado de tanto sofrer, ele lembrou da história de um Beato negro, que estava para ser santificado. O nome dele era Benedito e diziam que ele era muito bom e fiel a Deus. Então, Café começou a rezar em sua língua nativa, chamou por Oxalá e pediu se aquele "Santo Negro" podia tirá-lo dali. De repente, uma luz o envolveu e ele acordou em outro lugar... Parecia que estava em uma espécie de Quilombo, só que maior, mais limpo e mais brilhante.
Um senhor negro de olhos cor de mel o observava e sorria. E lhe perguntou: "Então, meu filho, acordou?" A pergunta tinha duas conotações. Quem conversava com ele era "Pai Benedito de Aruanda" e lhe perguntou: "Sua revolta passou, meu filho? Está pronto para saber a verdade, trabalhar e evoluir?" Café respondeu que sim com a cabeça. E Pai Benedito lhe disse: "Então, por hora, descanse."
Após uma semana, Café já estava melhor e começou a andar pelo local. Percebeu um jardim de rosas próximas dali e ficou encantado. Foi até o roseiral e começou a cavocar a terra, mexer nas roseiras e brincar com as borboletas e pássaros. Todas as manhãs, ele se levantava, se asseava, bebia seu caldo quente energizante e ia até o roseiral. Assim, passou dois anos.
Um dia, Pai Benedito lhe disse: "Agora você precisa evoluir. Me acompanhe."Café acompanhou o velho que começou a andar para fora do local. Então, ao observar melhor, percebeu uma cidade, com muitas construções, diversos bosques e outras vilas. Café nem sabia que era assim fora daquele Vilarejo. Então, Pai Benedito lhe disse:"Essa é Aruanda, meu filho, é a morada de todos aqueles que querem trabalhar e evoluir."

Terceira parte
Exu Sete Porteiras inicia seu trabalho.
Café acompanhou Pai Benedito e chegou a um local enorme, cheio de construções, com pessoas entrando e saindo. Eles se dirigiram a uma sala, que possuía na porta uma placa, onde estava escrito: Orientador.
Entraram, sentaram-se em frente a um senhor que parecia uma mistura de médico e índio. Ele se apresentou: "Muito prazer, aqui sou conhecido por Caboclo Cobra Coral, ou simplesmente, Dr. Luiz. Depois lhe contarei minha história. Mas, nesse momento, você precisa recordar sua trajetória na Terra e escolher seu trabalho."
Dr. Luiz apontou uma parede branca na sala onde apareceram imagens de um tempo distante... "Nas Terras do Egito, um Faraó aniquilava todos os que se opusessem a ele. Ele era cruel e déspota. A tela se fechou e abriu-se novamente. Depois disso ele teve duas encarnações como líder de Tribos Africanas, onde praticou boas ações. E a terceira onde foi levado ao Brasil e vendido como escravo."
Quando as telas se fecharam, Dr. Luiz lhe perguntou: "Entendeu por que tudo isso lhe aconteceu?" Diante da afirmativa de Café, Dr. Luiz continuou: "Temos uma missão para você. Gostaríamos que você iniciasse sua jornada evolutiva como espírito mesmo, em solo brasileiro, trabalhando para o surgimento de uma nova religião. Como você ainda possui uma dívida de morte na sua última encarnação, gostaríamos que você trabalhasse como guardião ou, como dizem na África: Exu.
Você protegerá todas as pessoas que trabalham na religião dos seus ancestrais e atenderá onde mais for solicitado. Você será um Exu Sete Porteiras, pois poderá ir a qualquer lugar. Como Exu você terá a Lei da Dualidade. Mas, use-a com sabedoria, porque uma nova queda impedirá seu retorno para essa Colônia. Entendido?" Café confirmou e abaixou a cabeça. Iniciou, assim, uma nova etapa em sua vida espiritual.

Quarta parte
E a missão continua...
O Senhor Exu Sete Porteiras trabalhou durante cem anos como guardião de muitos,  de todas as raças e credos. Conseguiu cumprir sua missão com dignidade, lembrando-se sempre do que havia assistido sobre suas vidas anteriores.
Um dia, foi designado para defender um Terreiro de Umbanda, a nova religião do Brasil. Ao chegar ao local, deparou-se com o capataz que ele tirou a vida como escravo... Sentiu um nó na garganta, pois agora ele trabalhava como Chefe do Terreiro e, "Café" como Exu, deveria servi-lo.
Mas, ele queria evoluir e aproximando-se do médium pediu perdão e caiu de joelhos. Sentiu que o médium lhe dizia em pensamento: "Já está perdoado!" E assim, O Senhor Exu Sete Porteiras o serviu até o final de sua vida terrena.
Quando o médium desencarnou, eles se encontraram em Aruanda e se abraçaram. Eles se reconheceram de todas as vidas: no Egito, na África, no Brasil... Sempre disputando poder e liderança. Mas, dessa vez haviam superado tudo isso.
Os dois foram chamados à sala do Orientador e ele lhes falou: "Dessa vez tenho outra missão para vocês. Um de vocês reencarnará e prosseguirá com a missão de médium e Chefe de Terreiro, o outro permanecerá um tempo estagiando e estudando aqui na Colônia. Vocês dois serão instruídos por um tempo e depois se separarão. Aquele que ficar aqui será o Guia Espiritual e o outro será o médium."

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Jurema: o Reino dos Encantados!


A palavra "jurema" deriva do tronco linguístico tupi-guarani e significa: árvore de espinhos com cheiro forte.
Para entender melhor essa representação e o seu verdadeiro significado, temos que conhecer a Cultura Indígena... Para os índios, toda árvore é sagrada, porque nela habitam os espíritos da floresta.
A árvore da Jurema é a morada de espíritos especiais, que ofertaram ao Povo Indígena o poder da cura e da sabedoria. Por isso, para os descendentes dos índios, a Jurema é um lugar sagrado.
Quando o homem branco invadiu a floresta dos índios e começou a derrubar todas as Árvores Sagradas, os Espíritos da Natureza tiveram que se mudar... Eles deixaram de existir nesse plano e foram morar no "Mundo dos Deuses".
Para o Povo Indígena Tupi-guarani existe uma "Terra Sem Males", impossível de ser contaminada pelo homem branco e por sua ganância em busca de riquezas sem fim...
A Jurema é, agora, um lugar especial, longe da ação destrutiva dos seres humanos. No Reino Encantado da Jurema, os animais, as plantas e os ancestrais indígenas estão protegidos dos "Espíritos Maus".
Portanto, a própria Jurema "encantou-se" e tornou-se o lar permanente de todos os seres que sofreram com a destruição da Natureza. Nesse local sagrado eles, ainda, podem existir!

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domingo, 7 de outubro de 2012

Pai Jacó do Cruzeiro: o coveiro dos escravos.

O nego Jacó viveu muitos anos e viu muitas coisas nessa terra de Deus. Nasceu em 1768 numa das tribos de Angola e foi trazido para o Brasil ainda moleque. Foi comercializado no mercado de escravos de Salvador, mas foi comprado por um senhor feudal de Minas Gerais.
Demorou para aprender a língua dos homens brancos, pois ficava o tempo todo calado. Ele era de origem banto e falava o kimbundo. No começo acharam que ele era mudo, até que o amor de uma negra, que havia perdido seu filho, o adotou... Ela o acolheu e o ensinou sobre as coisas da escravidão e da vida em terra de gente branca.
Ele demorou para entender e aceitar tanta barbaridade. Ficava calado, apenas observando e fazendo o que lhe mandavam. Sempre que alguém morria por causa dos mau tratos, ele ia até o corpo, rezava em sua língua nativa, passava ervas cheirosas no corpo do falecido e depois pedia ao capataz para sepultá-lo.
No começo, estranharam esse seu gesto... No entanto, com o tempo, começaram a lhe pedir para fazer isso, cada vez que alguém morria. Os próprios capatazes poupavam seu serviço de enterrar os mortos, deixando esse trabalho por conta de Jacó.
Esse nome (Jacó), ele recebeu porque ficava calado olhando para o alto, para o céu, para as estrelas, como o Jacó da Bíblia ao avistar a escada sagrada. Seus pais haviam lhe dado o nome de Ngala (que significa Alegria em sua língua nativa), pois ele era uma criança alegre, antes de ser escravizado. Porém, agora, ele não sentia muita alegria.
E assim Jacó viveu toda a sua vida de escravidão: sepultando os mortos. Nunca se casou, nunca se envolveu com ninguém. Ofereceu sua vida a cuidar dos outros. Também nunca foi para o tronco, pois nunca desafiou uma ordem sequer. Viveu calado, sempre observando...
Quando assinaram a Lei Áurea para  a libertação dos escravos, Pai Jacó estava com 120 anos e ainda vivia. Era cuidado por um casal de amigos da senzala. Estava quase cego e surdo, não falava, só gesticulava.
Assim que recebeu sua carta de alforria, pegou um punhado de ervas, se lavou, vestiu sua roupa mais limpa e se deitou. Colocou a carta embaixo do travesseiro e fechou os olhos, dando seu último suspiro. Nego Jacó estava livre, afinal, e podia partir...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Caboclo Cobra Amarela: um índio pantaneiro.

Esse índio nasceu na margem esquerda do Rio Paraguai, onde hoje se localiza a cidade de Cáceres, no estado de Mato Grosso. Ele era um índio forte e destemido da tribo dos Paiaguá.
Seu nome indígena era Membira M'Boi (Filho do Deus Serpente), pois ele conseguia ficar submerso na água por longos minutos. Escondia-se nos arbustos e folhagens sem ser visto e atacava sorrateiramente, como uma cobra. Adorava brincar com todas as cobras da região, principalmente com a "Cobra Amarela" (Bothriechis Schlegelii).
Os Paiaguás uniam-se aos índios Guaikurus nas batalhas contra os invasores, alcançando a vitória nas lutas. Eles entendiam de montaria e estratégias de guerra, por isso, eram exímios guerreiros.
Manejavam o arco e a flecha com destreza. Eram hábeis navegadores, sabiam mergulhar e, praticamente, viviam sobre as águas. Eles tornaram-se conhecidos como "índios canoeiros". Eram nômades, deslocavam-se com rapidez e possuíam muitas aldeias, com rota de fuga dentro da floresta.
Sua tribo possuía um código de honra que os impedia de recuar em uma batalha. Por isso, junto aos Guaikurus, lutaram contra os portugueses, oferecendo grande resistência à povoação do Pantanal mato-grossense. O Mato Grosso foi povoado por terra, através da Rota Madeira Guaporé, porque pela água, os índios ainda dominavam...
Somente em 1791, um Tratado de Paz conseguiu apaziguá-los e declará-los súditos da Coroa Portuguesa. Então, chamou-se "Guaikuru" todos os indígenas do Pantanal que compartilhavam a mesma língua nativa.
Membira M'Boi morreu lutando por sua terra e por sua gente, no começo do século XVIII. Soldados fortemente armados devastaram a maior parte das aldeias Paiaguá, em busca de ouro e pedras preciosas.
Assim, ele concluiu sua jornada terrena e iniciou sua nova jornada espiritual.  Ele relata que também já viveu na Austrália e na Europa Central, em vidas anteriores... Segundo esse Caboclo, sua maior aprendizagem ocorreu no Brasil, onde aprendeu a respeitar a natureza e a vida.
Hoje, ao trabalhar na Umbanda, Membira M'Boi atende pelo nome de Caboclo Cobra Amarela. Ele trabalha para as Mães d'Água e para Oxumaré.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Pai Francisco do Caminho e Vovó Catarina do Congo...

O casal mais formoso do sertão nordestino.

Pai Francisco nasceu numa fazenda do Maranhão... Ele era casado com Vovó Catarina, uma negra bonita que veio do Congo, na África.
Eles tiveram nove filhos, três foram mortos pela escravidão, dois mortos no parto e os outros vendidos pelo mundo...
Era ainda o século XIX e a escravidão judiava negros e índios. Só os brancos tinham vez.
Vó Catarina era assim chamada, porque ajudou a trazer ao mundo muitas crianças...
Pai Francisco, como era conhecido, gostava de fazer suas rezas, seus benzimentos e suas orações. Assim, auxiliava a todos que precisavam de sua ajuda na Senzala.
Ele trabalhava na lavoura de cana-de-açúcar e também plantava iguarias para tempero. Vó Catarina ajudava nos afazeres da fazenda e cuidava dos sinhozinhos.
Apesar da tristeza da perda dos filhos, os dois eram felizes juntos.
Juntos, eles sempre socorriam os escravos das chibatadas e dos maus tratos. Davam guarida, apoio e alimento.
Vó Catarina adoeceu muito depois que a escravidão levou seu último filho. Por mais que se esforçasse, a dor foi tomando conta e ela morreu de tristeza.
Pai Francisco já não era tão jovem e, quando saiu a Lei Áurea, ele ficou sozinho e sem lugar para morar. Então, começou a peregrinar pelo sertão nordestino...
Carregava consigo somente uma matula de carne seca com farofa, uma moringa com água e um cobertor.
Enquanto caminhava, cobria sua cabeça com um pano e um chapéu... E fumava seu pito. Às vezes, costumava cantarolar canções da Senzala pelo caminho.
Ele viveu mais vinte anos andando pelos caminhos do sertão. E com o tempo ficou conhecido como o "Velho do Caminho".
As pessoas lhe davam pouso, água e comida e em troca ele curava os enfermos do local.
Quando faleceu, estava descansando embaixo de uma árvore e ouviu Vó Catarina o chamando... Então, seu tempo na Terra havia acabado.

Negro Man in Cotton Field William Aiken Walker