quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Caboclo Gira Mundo

Aquele que trabalha com a Roda da Cura.

O Caboclo Gira Mundo dessa Seara, não é um Cacique ou um Pajé; ele é apenas um índio norte-americano, que nasceu na região de Seattle e pertenceu à Tribo dos Suquamish, onde hoje é o estado de Washington. Ele nasceu e viveu durante o século XVIII (da Colonização Inglesa) e desde cedo convivia com os costumes do Xamã da Tribo, aprendendo tudo sobre os Espíritos da Floresta, sobre a Grande Roda da Vida e sobre a Cura dos Ancestrais.
Durante os processos de desenvolvimento, onde alguém era escolhido pela tribo, o Xamã Pasha Waka solicitava sua ajuda e pedia que ele dançasse ao redor da Roda Xamânica para atrair os bons ancestrais daquela pessoa. Ele sempre iniciava pelo pedra que representava o nascimento da pessoa e o contato com seu Totem Pessoal. Assim, ele sabia e sentia como funcionava a Grande Roda da Cura Xamânica.
Com a idade de 10 anos Pasha Waka lhe deu o nome de Caboclo Gira Mundo (Wanagi Kanglesha Aklan), pois ele sabia "girar a Roda da Vida" de cada índio. Quando sua tribo reunia-se em torno da fogueira, ele celebrava dançando para cada um dos presentes na cerimônia. E isso muito agradava ao chefe Wanblee Gleshka (Águia Pintada).
Quando o homem branco chegou em seu território e as disputas iniciaram, Wanagi ficou triste porque percebeu que sua cultura se perderia... Então, ele pensou em como preservaria todo o costume aprendido com seu povo e pediu a Topa Tate (as quatro direções) que lhe guiasse os passos para honrar o conhecimento de seu povo.
Nessa época iniciou o período mais negro da história Norte-americana: o genocídio de inúmeras tribos e o massacre de muitos índios. O território apache foi invadido. Os índios Sioux foram assassinados. Seattle deixava de ser uma aldeia pacífica e cheia de alegrias. Muitos de sua raça pereceram, enquanto a guerra espalhou-se em solo americano. A principal função da colonização era a obtenção do controle da terra e de suas riquezas.
Wanagi viu a chacina de sua gente e chorou lágrimas de sangue. Ele foi capturado e obrigado a trabalhar em um circo com outras raças. Sua função era ser um atirador de facas, enquanto uma roda girava, com uma moça presa à ela. Os indígenas que restaram foram obrigados a se esconder em territórios áridos, inférteis e isolados.
Haviam mais de 25 milhões de índios norte-americanos e 2 mil idiomas diferentes. Mas, ao final das guerras indígenas, restaram apenas 10% do total (mais ou menos 2 milhões de índios). O genocídio dos nativos americanos foi claramente controlado e impulsionado pelo governo e seus aliados, que visavam apenas lucros e progresso financeiro com o fim da raça indígena.
Gira Mundo (Wanagi) ficou "amortecido" no circo por dois anos, sem perspectiva de luta ou vida. Mas, um dia reencontrou outros de sua raça e com eles empreenderam uma fuga. Eles deslocaram-se em direção ao Alaska, pois a região ainda estava preservada dos homens brancos, devido a distância e às intempéries do tempo.
No solo da Última Fronteira (como era conhecida a região), por ser uma península gelada e retirada, Wanagi conseguiu reconstruir um pouco a sua vida. Praticou os ensinamentos que recebeu de Pasha Waka (o Xamã) e aplicou-os para curar seu povo. Viveu no dia-a-dia a sabedoria do Chefe Wanblee Gleshka e tornou-se um líder para o povo.
Assim, eles esconderam-se por um tempo do resto da civilização e do mundo europeu. Quando a idade avançou para "Gira Mundo", a Rússia estava negociando o território peninsular com os Estados Unidos. Gira Mundo - Wanagi descansou sua Roda Xamânica do Tempo, exalou seu último suspiro e deixou que seus herdeiros contassem sua história.

*Gira Mundo pode ser escrito Gira-mundo; mas em alguns documento registra-se Giramundo...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Exu Pemba Negra

Um Sentinela do Portal da Escuridão.

Esse Exu viveu muitas vidas e muitas histórias, mas somente uma delas, ele nos permitiu contar e a narrou por si mesmo: "Eu vivi minha última existência em 1530, em Amsterdã, hoje Holanda. Muitos huguenotes, judeus e pagãos refugiaram-se em Amsterdã nessa época, por ser uma cidade com pouco contato com o mundo europeu. Porém, teve início uma guerra que durou oitenta anos e determinou o futuro de muitos 'holandeses'.
Eu era de uma família judaico-cristã, portanto, não tivemos problemas com a Igreja da Europa. Desde cedo frequentei abadias, conventos, monastérios e ordens eclesiásticas para estudar. Tornei-me um dos preferidos dos cardeais e passei a ter certos privilégios, como: aprender a manusear armas de todas as espécies e atuar como espião junto aos governos.
E assim, com a idade de 23 anos eu já era respeitado e requisitado por todos aqueles que queriam fazer uso de minhas habilidades de 'espião-duplo'. Vocês pensam que a espionagem é privilégio do tempo de vocês; mas, eu lhes digo, ela é tão velha quanto o próprio Salomão! (Basta ler na Bíblia que, o próprio Caim matou Abel, após espionar suas conversas com Deus.)
Bom, voltando à minha história, eu tornei-me um excelente espião e entregava literalmente a todos que, segundo minha crença, mereciam o justo castigo. Muitos foram aos calabouços, à forca, à tortura e à morte de diversas maneiras, por minhas mãos. Tornei-me especialista em denunciar e, quanto mais o fazia, menos remorso sentia! Eu até havia me afastado de meus pais e de meus irmãos.
Tornei-me um prisioneiro de mim mesmo e de minhas armadilhas. Mas, dizem, porém, que nosso destino nos procura e o meu bateu-me à porta. Conheci, nessa época, uma linda mulher, que afeiçoou-se a mim, tanto quanto eu a ela. Tornamo-nos amantes ardentes e nada mais nos importava. Esquecemos do mundo lá fora. Mas, não tardou para que eu vivesse o pior dos horrores...
Um dia fui chamado à presença do Cardeal Hispânico e este solicitou-me descobrir o paradeiro de uma jovem, que fora esposa de um Grão-duque da Toscana e fugiu sem deixar vestígios. Diziam ser ela uma "huguenote" e líder da rebelião nos países baixos, pois era descendente de uma importante família etrusca. Quando solicitavam-me o serviço eu nada perguntava, apenas executava-o.
E assim, busquei informações que me levaram ao paradeiro da moça. Surpreso descobri tratar-se da pessoa com quem me relacionava. Eu não sabia se aquilo era um teste da Igreja ou uma armadilha do destino. Por um tempo fiquei sem saber como proceder, até que decidi contar a ela toda a verdade sobre a minha pessoa. Percebi em seu olhar um brilho de pavor, quando lhe relatei a minha profissão. Mas, ela dormiu comigo mesmo assim... Porém, ao despertar pela manhã, não a vi. Procurei por toda parte e não a encontrei.
Ao retornar de minha missão precisava passar um relatório de viagem aos superiores, mas eu era tão vigiado, quanto pensava vigiar! Foi, então, que me declararam que ela encontrava-se presa e eu seria grandemente elogiado por entregá-la de maneira tão sutil e 'elegante'. Nessa hora eu percebi o golpe do destino e das autoridades: fui punido por mim mesmo!
Caí por terra, despenquei, precisava resgatá-la! Pedir clemência ao Cardeal não adiantaria, pois mulher adúltera não tinha perdão. E ela tinha dois agravantes: era huguenote e etrusca. Meu Deus, como colhemos o que plantamos! Eu consegui vê-la após alguns dias e seu estado era deplorável! Olhou-me nos olhos e sorriu, mas nada disse e foi a pior punhalada que recebi! Eu fui um covarde, eu não lutei naquele momento!
Eles sabiam que para libertá-la eu teria que entregar-me e, ao entregar-me, eu seria réu confesso e pagaria caro por esse crime de amor! Como se amar fosse um crime! As mortes que eu causei eram muito mais graves que meu amor por ela... Então, decidi lutar. Eu era excelente no que fazia e poderia libertá-la! Planejei tudo minuciosamente e em dia apropriado apliquei meu plano.
Mas, eles já sabiam e esperavam pelos acontecimentos. Eu fui preso e condenado como espião-duplo e traidor do reino. Como castigo puseram-me acorrentado em uma cela ao lado. Eu a vi ser maltratada dia após dia e nada pude fazer. Seu ex-marido comprazia-se em ver seu sofrimento ser aumentado gradativamente. Que dias terríveis foram aqueles!!! Pareciam não ter fim...
Então, chegou o dia da execução e ambos fomos levados em Praça Pública. Eles me forçaram a olhar para tudo o que fizeram com ela: enforcamento, esquartejamento e cremação. Por fim, eu fui degolado, pois era membro eclesiástico e minha sentença era proferida dessa forma. Eu e ela encontramo-nos do outro lado. Ela estava linda, translúcida, parecia uma Princesa de Luz. Ela seguiu seu caminho de iluminação e eu fiquei nas trevas.
Eu era um farrapo humano e muitos espíritos que persegui exigiam minha punição. Eu fui entregue a um grupo de vingadores para que fizessem o que quisessem comigo. Enquanto exigiam minha condenação, um senhor todo trajado de preto, com um manto a lhe cobrir da cabeça aos pés, aproximou-se do grupo. Percebi que o grupo silenciou e observou, pois respeitavam-no. Então, ele falou que meu destino já estava selado e eu devia cumprí-lo imediatamente. Tirou-me do meio deles e levou-me por um portal.
Chegamos a um pequeno Cemitério, onde ele determinou: -Você recolherá todas as almas que caírem nas Trevas da Ignorância. Depois, encaminhará cada uma delas ao seu desfecho final, dentro do Umbral. Seu nome a partir de hoje será Exu Pemba Negra - como um Guardião das Poeiras e dos Nevoeiros da Escuridão. Eu perguntei: -Por quanto tempo ficarei nessa tarefa? E ele respondeu: -Não há um tempo determinado...
A partir desse momento, eu 'desci' para cumprir minha missão de morte. Perdi o contato com minha família e com ela (a etrusca). Apenas sei onde vivem e o que fazem, mas não posso vê-los ou visitá-los. Ainda cumpro meu trabalho e sou solicitado a todo momento. Essa é minha história; é assim que eu vivo agora."

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

EGUNS com ou sem luz...

As Almas Benditas e as Almas Penadas.



Aproveitando a passagem do Dia de Finados, vamos explicar melhor o que é "egun". Egun é um espírito ou alma de outro mundo. Ele pode ser:
- alma bendita (abençoada ou benfazeja);
- alma penada (que "pena" as suas penas);
- alma perdida (que vaga pelos lugares sem rumo);
- alma das trevas ou da escuridão profunda (almas de magos negros);
- alma do mar das lamas (ou do lodo da perdição);
- alma do inferno (ou do abismo profundo);
- alma amaldiçoada (ou acorrentada a alguma dívida);
- alma aflita (sem fé e cheia de dúvidas);
- alma do purgatório ou do umbral (que está expurgando seus pecados);
- entre outras denominações...
Um Egun pode pertencer à luz ou às trevas, dependendo de como foi sua existência... Mas, ele também pode tornar-se um Egungun (Alma que cumpriu sua missão de vida e "subiu"). Segundo os Candomblecistas, nós os Umbandistas, trabalhamos com "Eguns de Luz" (eles utilizam esse termo para designar as Entidades que incorporam na Umbanda).
Por isso, durante o desenvolvimento do Abiã (futuro Iyawô), utilizam-se os contra-eguns. Um contra-egun serve para evitar a aproximação de qualquer Entidade (alma ou espírito). Pois, durante a Feitura do Abiã, ele deve ter contato, apenas e somente, com o seu Orixá.
Agora, voltando a explicar sobre as almas... Uma Alma Amaldiçoada é uma Alma bastante sofredora, que não se perdoa e nem foi perdoada. Ela pode assumir as mais diversas formas e aparências para expressar a sua dor: lobisomem, vampiro, ogro, etc. Uma Alma Negra é uma Alma que fez muito mal à humanidade e vive na escuridão profunda, assumindo quase o aspecto de um demônio. Uma alma aflita é uma alma que deixou algo mal resolvido ou não teve tempo de solucionar seus problemas e fica vagando e atormentando. E assim por diante...
Mas, como nos livrar dessas almas? Nas Religiões Africanas, Ciganas, Pagãs e Ameríndias utilizavam-se diversos objetos de adorno, para proteção contra as almas. Nós Umbandistas, também fazemos isso: nos protegemos com as populares guias (ou colares de miçangas). Além de outras práticas diversas aplicadas em nosso Culto. Por isso, durante o desenvolvimento existem os boris, amacis, orações, cantos, pontos, vestimentas, etc.

Uma curiosidade:
Existem muitas lendas envolvendo a história das Treze Almas Benditas ou Almas Santas e Convertidas. Muitos avós costumavam utilizar esses termos ao falar das almas... Alguns até tinham o costume de rezar para as "Almas Santas ou Benditas". A história das Treze Almas Benditas fala das almas que morreram queimadas em um prédio no RJ... Já as Almas Santas e Convertidas, são aquelas que morreram em massacres diversos pela Europa.


sábado, 2 de novembro de 2013

Dia dos Mortos, das Almas, dos Eguns e de todos os Espíritos!

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No dia 1° de Novembro comemoramos o Dia de Todos os Santos e no dia 02 celebramos o Dia de Todos os Mortos. Zélio de Morais* determinou que Oxalá seria a primeira Linha da Umbanda: a Linha Branca, da pureza e da paz. E que que Obaluaiê e Omulu comandariam a última Linha e que sua cor seria Preta (que significa morte).
Assim, temos a representação da pureza da vida na cor branca de Oxalá e a representação das trevas da morte na cor preta de Omulu e Obaluaiê. Por isso, Omulu e Obaluaiê assumiram a Linha das Almas; pois, São Lázaro "retornou dos mortos" quando Jesus o chamou e São Roque sobreviveu às doenças pestilentas de sua época, graças a companhia de um fiel cão.
A Umbanda compreende que há vida após a morte... O Trabalho Espiritual entre os Encarnados e os Desencarnados é realizado para o bem comum de todos. Pois, todos os espíritos são iguais, perante Zambi (Deus). 
No dia 1° de Novembro celebramos aqueles que sacrificaram sua vida por uma causa ou um ideal, mas não foram "canonizados" - por isso o termo: "Todos os Santos"! O Dia dos Finados possui como diversas representações: lembrarmos dos entes queridos que partiram; orarmos uns pelos outros e termos a certeza que todos nascemos e depois morremos.
No Brasil, a maioria das pessoas visita os cemitérios ou túmulos dos familiares, levando flores, velas, ou outros enfeites, no Dia dos Finados. Nos Estados Unidos é comum as pessoas enfeitarem os locais onde a pessoa perdeu sua vida, para que ela seja lembrada para sempre! Nesse locais as pessoas deixam presentes diversos, velas coloridas e perfumadas, flores, objetos pessoais, entre outras recordações. Em outros países do Mundo, também comemora-se o "Dia de Finados", de acordo com cada Cultura; porém, nas Américas, devido aos Cultos Ameríndios e Afrodescendentes temos uma cultura bem abrangente e diferente para a morte.
No México, por exemplo, as pessoas festejam seus mortos com fantasias, doces e música. Segundo a crença local, os falecidos voltam às suas casas nessa data, para visitar os parentes vivos.  Por isso, as famílias preparam altares repletos de adornos, objetos do ente querido e comidas do seu gosto. É uma das Festas Mexicanas mais animadas, onde as crianças aproveitam bem, pois, seus doces preferidos são as caveirinhas de açúcar. A tradição tornou-se tão cultural, que foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco!
As origens da celebração mexicana são anteriores à chegada dos espanhóis; pois, há relatos de que os Astecas, Maias, Purépechas, Náuatles e Totonacas já praticavam esse culto. Os rituais se realizavam nessas civilizações há mais de três mil anos. Na era pré-hispânica era comum a prática de conservar os crânios como troféus, e mostrá-los durante os rituais que celebravam a morte e o renascimento.
O festival do "Dia dos Mortos" era comemorado no nono mês do calendário solar Asteca (por volta do início de agosto) e era celebrado durante um mês inteiro! As festividades eram presididas pela deusa Mictecacíhaultl, a "Dama da Morte" (ou do espanhol: Dama de la Muerte). A imagem de uma caveira encoberta por um manto e adornada por flores, já remete ao país automaticamente. Atualmente está relacionada  a imagem de La Catrina, esposa de Mictlantecuhtli (El Rey de Los Muertos).
Os símbolos do Dia dos Mortos acabaram tornando-se símbolos da Cultura Mexicana e de outros países. Embora a festa continue sendo celebrada atualmente, com características mais modernas, ainda são encontrados rituais mais tradicionais em algumas regiões do país. Mesmo com a colonização e a aculturação espanhola, o ritual do Dia dos Mortos é um dos poucos que restaram no México pós-colonização.

E quem se diverte a valer nessas festas?
É o Senhor Tata Caveira,
com todos os seus auxiliares!!!


LA MADRE DE LOS MUERTOS